
CORPO ORACULAR
Mover estados de Atenção, Oracular o Corpo
Corpo Oracular é uma prática de improvisação em dança que propõe estudar o presente de forma profunda, tendo como interesse desenvolver através do movimento uma tecnologia aguçada de percepção. Se apoiando em meios de conhecimento que privilegiam a construção de um estado de conexão através do corpo, estão presentes nesta prática conteúdos em torno da atenciografia (Lisa Nelson), o estado meditativo e a improvisação entre linguagens.
O foco dessa pesquisa se dirige a nossa capacidade de re-sensibilização do corpo. Apostando na pele como canal de atenção primordial para o diálogo com seu meio somos capazes de desenvolver uma atitude de escuta refinada, um modo específico e receptivo de comunicação com o espaço e com o outro.
A construção desta atitude é a coluna central que orienta esta pesquisa e que leva o nome de “atenção relaxada”, um modo de atenção que busca um foco intenso, porém ampliado, deslocando o observador e permitindo desidentificar-se das formas externas de modo obsessivo e controlado. Estudar e modular o presente estando nele é o grande desafio desta investigação. Trabalhar a percepção de modo a abrir uma janela de perspectiva enquanto o presente acontece, deslocar o observador interno e sair do automatismo da reação, produzindo um novo modelo de resposta, uma nova maneira de estar junto com o outro, com o meio, e com os conteúdos que da prática emergem.
Na vida cotidiana diante de situações marcantes o momento de modulação do presente nos diz sobre nossos padrões, e a origem de nossas dores e traumas. Por sua vez, mover estados de atenção enquanto dançamos ilumina nossos códigos gestuais, caminhos e posturas de repetição. Perceber os trajetos de resposta, nos permite questionar à serviço de quem está o nosso corpo, o nosso movimento. Ao nos distanciarmos dos padrões de automação, desacoplamos o desejo do outro sobre nossa estrutura, imagem e expressão. Abre-se então uma brecha, um espaço onde meu corpo pode ser o que ele já é, me aproximando da intimidade em conhecer e fazer as pazes com minha própria topografia.
Deslocar o observador e se desidentificar nos permite questionar a serviço de quem está o nosso movimento quando assim desejamos nos mover. Será possível mover sem a pressão insistente do desejo do outro sobre nossa estrutura? Será possível mover a quem de uma dívida estrutural entre meu desejo e o desejo de validação externa?
O corpo que se abre como oráculo para seu meio, como um suporte receptivo, descobre portanto a força de ter em si um instrumento de revelação. Um instrumento de consciência, modulação e transformação de energia. A imagem que circunda a construção desse corpo que treina é a imagem de um canal. Um espaço de escoagem e tradução dos estímulos e desejos percebidos e materializados em gesto. Um corpo paisagem. Uma estrutura viva, rica e em constante movimento que oscila a sua topografia com a passagem do tempo a partir da ação da vida que nela irrompe.
Além de uma prática afinada aos nossos processos criativos, encontramos também nesse caminho um espaço possível de mergulho pessoal, ao nos depararmos com situações e imagens que de nossa estrutura emergem. Instaurando um percurso possível de auto conhecimento, saúde e expressão. É neste traço que a prática tem em si sua força terapêutica, ao nos colocar de frente com conteúdos e nos dar a chance de modularmos, digerirmos e reformularmos, sensações e sentimentos. Criando distância e condições para observar o próprio movimento.
Caminhos
I) Modulações da atenção: atenção-relaxada e o deslocamento do observador interno, II) A pele: a fronteira com o outro; III) Modos de revelação: corpo paisagem;
PARA QUEM?
Estas práticas são destinadas a tod/s que possuem ou desejam retomar o desejo de mover no seu sentido mais primitivo. Redescobrindo um estado de interesse pelo próprio corpo e pelo próprio movimento de forma continuada. Buscando uma curiosidade que se aproxima mais de aspectos como a contemplação, o relaxamento e o prazer, do que de um mecanismo de execução, repetição, eficácia ou alta performance.
Se sentirão acolhidos pesquisadores do movimento, interessados em improvisação em dança, artistas, criadores ou qualquer outra pessoa que busque no corpo caminho de expressão e conhecimento.
I) Modulações da atenção: atenção-relaxada e o deslocamento do observador interno
A atenção é uma musculatura que deve ser cuidada, estimulada, guiada e fortalecida. A capacidade de nos atentarmos para algo diz diretamente sobre a saúde e plasticidade da nossa mente. Através de um modo atento porém relaxado, temos a capacidade de nos conectarmos com a dimensão não apenas física e material do corpo, mas também com sua dimensão energética, invisível.
A afirmação, "sua energia está onde está a sua atenção”, é um ensinamento base do pensamento que percorre tradições e medicinas do oriente, e nos convoca pensar sobre nosso corpo em sua camada mais sutil, e para além da matéria.
Aos nos aproximarmos e tomarmos consciência de nosso corpo energético, temos a chance de perceber a sua configuração e os seus modos de acesso. Utilizando o próprio movimento atencionado como recurso de mobilização e desbloqueio dos canais, recuperamos esta chave base de percepção, transformação e cura do corpo através do corpo.
Quando
Seg e Qua - 09 as 11h
21, 23, 28 de fevereiro
02, 07, 09, 14, 16 de março
(oito encontros)
Onde
As práticas acontecem pelo Zoom. Link será enviado para os inscritos um dia antes do início da turma
Inscrição
As inscrições serão feitas mediante pagamento de matrícula no valor de R$135 reais referente ao curso completo de oito aulas.
Para reservar sua vaga, e confirmar sua matrícula enviar comprovante de pagamento para o email: contato.talitaflorencio@gmail.com
Pagamentos via pix com a chave:
36913554800
/ inscrições abertas até dia 20 de fevereiro

II) A pele: a fronteira com o outro;
Oracular o corpo é olhar para própria superfície como um mar de revelação. Uma topografia generosa que nos entrega na análise de suas estruturas e alturas aquilo de que é preciso saber, aquilo que habita nossa pele e nossa composição, investigando modos minuciosos de integração entre o corpo físico e energético através do movimento.
Se apoiando na atenção como tecnologia e como caminho de manutenção do desejo, buscamos nos apaixonar. Apaixonar-se por si da paixão como quem não se desvia, como quem permanece. Pulso constante, relaxado e libidinoso. A pele é a propulsão por onde estimulamos esse acontecimento erótico que se aninha no descanso em movimento. Navegando pelas topografias deste órgão, buscamos o encontro da pele com a pele, da pele com o espaço, da pele com objetos, e da pele com os sentidos. Mergulhar na própria topografia e dela descobrir o laço de sua fronteira com o mundo. Apoiar-se no encontro, e dele reaprender a escuta. Ouvir o invisível que corre nas matérias e se contaminar. Dar a vida a um corpo de passagem, um corpo paisagem, que se atualiza e refaz a todo instante. Escavar um mergulho interno, e refinar zonas sensíveis de relação com o espaço, objetos e desejos. Borrar na própria pele as dimensões entre criação e cuidado, entre eu e o outro, dentro e fora. Colocando o corpo ativamente na construção e modulação dos afetos, do micro ao macro, de minha própria célula à célula social e política. Construindo no afeto o afeto desejado.




III) Modos de revelação: Corpo Paisagem;
Oráculo é a ferramenta que revela a interação entre meios. Assim também pode ser vista a improvisação, como espaço de tradução, como vitrine de atravessamentos e interesses que percorrem uma topografia no momento em que se dança. Improvisar é oracular um corpo. Um verbo, um processo, um caminho de exposição e elaboração dos conteúdos que despontam em nossa superfície e em nosso gesto.
A improvisação é portanto uma vitrine que sutiliza o corpo à medida que cria uma inteligência própria ao estimular maneiras de pensar e ordenar o próprio gesto. Improvisar é uma prática de atualização constante dos fluxos de percepção, um circuito contínuo de interferências expostas em tempo real. A improvisação em seu próprio contorno cria parâmetros que invocam em sua prática necessariamente a presença. No entanto, ao lidarmos com fluxos de pensamento como um espaço de observação e estudo, notamos a fragilidade em mantermos um foco contínuo da nossa atenção. Em geral, somos corpos mais condicionados a uma estrutura de automação e de reprodução, recorrendo a padrões reativos de resposta.
Portanto, esta prática é também um estudo que pretende exercitar essa musculatura viva e movente que é nossa mente. Quando improvisamos necessariamente improvisamos em relação à algo. Independente do quão generoso seja o improvisador, o ato de improvisar te expõe a obrigatoriedade da relação, seja com sua própria matéria, com o outro, com as coisas ou com o espaço. A premissa que se sustenta é sempre a mesma, um ato de estar com.
Nesse sentido, intenção e escuta compõem a base desse modo de comunicação. Não faremos aqui de pronto o uso da imaginação no encantamento da matéria. Mas, buscaremos um caminho de relação com a camada invisível dos conteúdos que emergem de nossa prática.
Um corpo atento e relaxado ao se relacionar com algo tem mais chances de se abster do impulso gerador de criar e manipular um entendimento reativo e imediato sobre uma superfície ou indivíduo que se apresente em uma relação. Ao recuar do desejo de imprimir no outro/coisa uma resposta imediata sobre a sua interferência, cria-se espaço, distância, e abre-se portanto a possibilidade de escuta desse encontro.
Escutar pressupõe um movimento pendular de aproximação e distanciamento ao mesmo tempo. Escutar é se tornar um recipiente aberto. Uma presença próxima porém distante que preserve uma distinção entre a minha fronteira e a fronteira daquilo com o que me relaciono. Toco, encontro, porém não me misturo imediatamente. Quando nos misturamos perdemos a chance de ver realmente o outro que diante de mim se apresenta. Quando me abro como um recipiente para receber, crio espaço de penetração do outro em mim, nos acoplamos, nos encontramos, mas não perdemos a nosso contorno total. Como um bambu oco, tornamos uma terceira coisa, um espaço entre, um híbrido não nomeável. Construímos uma paisagem até então não existente.
Quando recuo, crio um campo sutil, vivo e movente. Um treino que exige da nossa prática e postura um engajamento e uma pequena dissolução dos nossos estados de controle e identificações. Na construção desse fluxo encarnatório, podemos então verificar e nos deleitar com o que já está na superfície de nossa matéria, e então, encaminharmos estas pulsões resultantes pros fins que nos forem desejados.
Esta prática leva o nome de corpo oracular por que acredita que o estado meditativo, é a síntese que proporciona a abertura e o silêncio necessário para que se possa ouvir as perguntas e respostas feitas ao corpo, de qualquer origem ou interesse. É uma prática que nos convida para a navegação interna, como meio de construir e acolher o que se apresenta como resposta no agora.





